Ana... na real!: Autoestima

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Autoestima

Conhecimento, racionalização, visão crítica... uma faca de dois gumes. Por um lado nos faz bem, estimula nossa inteligência, perscipácia, amplia o mundo. Por outro, dá-nos a consciência e não necessariamente a solução. Se temos a capacidade de identificar algo errado em nossa conduta é tortura não ser capaz de corrigir com eficiência. Se é possível encontrar o estopim de um trauma qualquer, por que não mudar sua configuração e consequência?

Admiro muito a psicanálise, a psicologia, apesar de nunca ter me colocado à frente de um profissional como este. [ Me disseram certa vez que "não preciso disso", pois tenho amigos, família, tenho com quem conversar... hummm... Hoje já discuto essa idéia! Será que é o suficiente? Bem.. Mas não é essa a questão hoje. ] O fato é que sou fascinada pela psique humana, mais especificamente, pela minha própria. O que me restou foi buscar conhecimento sozinha, em livros, reportagens, e sempre me choco com o aprendizado sobre o funcionamento da nossa mente e dos caminhos que o pensamento percorre, assim como as marcas que deixa. A postura de me colocar no divã é o desdobrar do autoconhecimento que entendi ser relevante para o meu crescimento pessoal.

Uma das minhas leituras me fez buscar o raiz de umas das minhas "neuroses": meu cabelo. Escolhi essa lembrança porque parece tão ridícula, tão sem fundamento, que é perfeita para o que quero colocar.

Tenho uma avó paterna... do tipo que deveria ser proibida de ser avó, quer dizer, até de ser mãe! Não é preciso mais do que 15 minutos de exposição da sua história para que qualquer pessoa concorde com a afirmação acima, mesmo parecendo agressiva e maldosa. Somente quem conviveu com ela pode entender o quanto isso é complexo.

Ela é vaidosa até hoje e foi ainda mais quando era jovem, bonita, vistosa, sensual e "poderosa", como gosta de dizer. Me tratava como uma boneca, até me colocava pra tirar fotos ao lado de uma. Porém, isso só valia quando me encontrava arrumadinha como um enfeite de bolo e, muitas vezes, ela mesma me arrumava pra se satisfazer. Como quase toda criança, eu odiava aquilo! Certa tarde, quis escovar meu cabelo e eu não deixei. Queria brincar, não me pentear. A cena que se seguiu hoje parece vazia, mas não foi assim aos meus olhos na época, com pouco mais de 8 anos... Ela segurou meus cabelos - levemente cacheados e volumosos - entre os dedos e gritou que eu tinha um cabelo horrível, "cabelo de nego".

[ Detalhe: a genética desenhou meus cabelos de acordo com a decendência dela. Seus fios são disfarçados com laquê e escova... mas iguais aos meus! ]

Hoje a chamaria de ridícula e preconceituosa, como fiz em ocasiões futuras. Diria que todo cabelo é bonito sendo bem tratado, que quando nos aceitamos como somos a beleza é natural, exuberante, segura e nos faz feliz. Quantos cabelos como os meus admiro nas outras mulheres! Mas em mim não...

Desse dia em diante só ficava feliz quando fazia escova, quando deixava ss cabelos tão lisos que ninguém poderia imaginar que fossem cacheados. Preocupada e notando que estava muito incomodada, minha mãe passou a me levar ao salão de beleza, cada vez com mais frequência. Chegava ao ponto de ser um "presente" quando me via triste com o que quer que fosse, pois esquecia tudo depois de ver meus cabelos escovados e balançando ao vento. E, lógico, não parou por aí... A frequência aumentou tanto que a partir dos 13 anos o salão passou a ser condição para o meu bem estar. Toda semana eu escovava o cabelo, toda semana! Só parei poucos anos atrás e, não por consciência, apenas pelo surgimento da "salvadora escova progressiva"!

Minha mãe nunca soube onde isso começou e eu mesma não sabia até me colocar no divã e buscar a origem disso. Me assustei.

O que uma atitude tão isolada foi capaz de fazer? Além dos prejuízos a minha autoestima, os prejuízos financeiros devem ser considerados também. São 52 semanas anuais, por mais de 15 anos, ou seja, 780 escovas. Se colocarmos uma média de R$ 20,00 cada, são nada mais nada menos, do que R$ 15.600,00!!! Ah... Fora as progressivas... rs... É rir pra não chorar!

Vocês podem estar pensando... "Nossa... Deve ser cabelo terrível!"... Pois é... não é! Meu cabelo é rebelde se não for cuidado, como todo e qualquer cabelo, mas é bonito, brilhante, com movimento... sei que é... racionalmente, eu sei. Emocionalmente, não. Não consigo aceitá-lo.

Os prejuízos financeiros a gente supera, não é mesmo? Mas... e as feridas na autoestima?

É estranho ter consciência disso e não conseguir mudar meu sentimento. Foi um exemplo tão pequeno, mas queria colocá-lo para dizer como os detalhes são importantes e como muitas pessoas passam toda a vida aprisionadas nesses padrões que assassinam o amor que devemos cultivar por nós mesmos, que atrapalham o romance que devemos ter com a nossa história, que ofuscam a nossa beleza única, valiosa e especial.

Um dia eu chego lá... E você?

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