Ana... na real!: Nossa Cor Marrom, por Cinthya Nunes

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Nossa Cor Marrom, por Cinthya Nunes

Compartilho o texto da minha amiga Cinthya, a mais nova faixa marrom do nosso dojô. Belo e verdadeiro texto. Parabéns! A mamãe-monstro aqui está muito orgulhosa de vc! rs



"Há exatos três anos eu resolvi me aventurar pelo mundo das artes marciais, coisa que eu nunca fizera antes. Embora não fosse nem de longe uma pessoa sedentária, eu jamais experimentara nada parecido.

As primeiras aulas pareceram deixar claro que eu tinha sérios problemas no quesito “coordenação motora em movimento”. Eu até que já deveria ter me convencido disso quando minhas aulas de jazz não demonstraram uma carreira propriamente promissora, mas eu estava estranhamente determinada a não me deixar desanimar, a não desistir.

Com as minhas habituais dificuldades quanto à noção de espaço, eu cometi muitas gafes, recebi alguns apelidos, falei demais, acertei de menos, mas nunca deixei de comparecer aos treinos, de buscar entender o que é que me mantinha ali, o que tanto me fazia gostar do aikido. De início, minha atenção, equivocadamente, direcionou-se para as faixas que eu teria que conquistar, bem como quanto tempo isso me custaria.

O tempo foi passando e eu fui persistindo. Faixa por faixa, fui avançando no meu aprendizado, no meu Budô (Caminho). O que fui aprendendo nesses anos, contudo, foi exatamente o contrário do que eu esperava. Em alguma medida eu me tornei mais corajosa, mas não no sentido da valentia, da violência, da bravata. Passei a ter mais confiança em mim, porém não pelo fato de que agora, potencialmente, eu poderia ser capaz de me defender ou de machucar alguém...

O que me municiou desses sentimentos foi o percurso. Na verdade, é o percurso. Percurso que não se finda em conta de faixas ou de anos, mas de passos e do olhar que se aprende a dar a eles. Descobri foi é que sou capaz de superar os meus próprios limites. O dos outros não tem importância. Nada me significa, a não ser pelo respeito, o fato de ser pior ou melhor do que alguém, sob a ótica das técnicas ou da graduação.

Percebi, na prática, que não dá para sabermos se somos ou não capazes sem que ao menos tentemos. Aprendi que sempre há mais um passo, mais um pouco de tempo, mas um pouco de fôlego, mais uma lição a ser assimilada. A cada dor sentida em um golpe, eu julgava ter chegado ao limite, mas no próximo golpe meus julgamentos iam irremediavelmente abaixo. Entendi que às vezes precisamos dar pausas, esperar que as dores nos deixem ou que passemos a dominá-las. Entendi que não adianta ir com sede demais à fonte, e que, na maior parte das vezes, o sucesso é a conjugação da vontade com a persistência...

Também aprendi que o talento, sozinho, é só uma face, mas não a moeda. Não se pode desperdiçá-lo, eis que ele cobra seu tributo. Perdi o medo dos desafios, porque entendi que, no máximo, posso não conseguir, mas não me permito mais a inércia, a ausência de passos... Entendi que quem pode se defender tem o dever moral de evitar, de prevenir.

Nessa semana fiz meu exame para faixa marrom. De repente eu tive a sensação de que o tempo passou rápido demais... É fato que não sou a mesma que um dia amarrou na cintura uma faixa branca, mas, curiosamente, nunca me senti tão paradoxalmente perto e igualmente distante, da faixa preta..."

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