Ana... na real!: "Acho que tá rolando uns teco aí dentro"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"Acho que tá rolando uns teco aí dentro"

Não é preciso muito para identificar que algo errado está acontecendo nas ruas loucas de Sampa. Veículo rasgando a pista na contramão, luzes vermelhas e sirenes em todas as direções, muro quebrado servindo de saída de emergência para pessoas já sem expressão. De um lado, o trem parado. Do outro, policiais acessando a plataforma com cautela.

A ideia era fazer um caminho diferente do habitual para mudar meus pontos de vista e encontrei uma cena tensa. Os sentimentos se confundem: curiosidade, preocupação, alívio. Passei a passos largos e com os olhos no movimento até topar com um rapaz, meio expectador meio repórter, filmando tudo do celular. Enquanto tentava fugir do seu ângulo para não atrapalhar as imagens registradas, ele me olhou e já transmitiu a informação:

"Acho que tá rolando uns teco aí dentro"...

Fantástica nossa capacidade de comunicação em situações críticas, seja ela qual for. Perguntar é dispensável e não há distância entre as pessoas.

Sou fã do ser humano. Numa cidade onde as pessoas poderiam ser distantes, e às vezes o são, nos descobrimos 'iguais'. Não existe título, condição social ou financeira, sexo nem cor. Ali uma bala perdida fere qualquer um. O homem se encontra com sua própria vulnerabilidade. É carne, é sangue, como qualquer um.

Não gosto de passar pelas muitas situações de perigo que nos são impostas todos os dias, mas curto o momento mágico em que a cegueira social fica suspensa e é possível enxergar a vida, e o outro, exatamente como é.

Nos acostumamos. Estamos cegos e anestesiados até que o sangue se agita e a reflexão torna-se inevitável.

Quando me afastei, só consegui pronunciar simples palavras em oração: "Que Deus nos proteja".

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